Registrando um aumento de 68,5% nos últimos seis meses, o Bitcoin emergiu como o investimento mais lucrativo no primeiro semestre de 2023. Essa performance é quase dez vezes maior em comparação ao índice de referência da Bolsa de Valores brasileira, o Ibovespa, que apresentou um incremento de 7,61% no mesmo período. A cotação da principal criptomoeda do mercado saltou de aproximadamente US$ 16 mil no início do ano para os valores atuais de cerca de US$ 31 mil.
O resultado é fruto de uma convergência de vários fatores positivos que ocorreram simultaneamente, de acordo com Lendel Vaz Lucas, Co-CEO da iVi Technologies, uma gestora de investimentos quantitativos. Um dos principais fatores é a maior previsibilidade em relação ao ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos. “A inflação global tem sido controlada após uma série de aumentos nas taxas de juros, o que provocou uma recuperação nos ativos de risco durante o primeiro semestre de 2023”, observa.
No universo das criptomoedas, existe também uma expectativa otimista em relação ao halving do Bitcoin programado para 2024. Esse evento ocorre a cada quatro anos e reduz pela metade a quantidade de moedas que os mineradores recebem como recompensa por bloco minerado, resultando em uma diminuição da oferta da criptomoeda e, consequentemente, impulsionando seu valor. “Historicamente, esse acontecimento desencadeia uma significativa valorização dos preços”, afirma Fabricio Tota, Diretor de Novos Negócios da MB.
Com a recuperação do contexto macroeconômico beneficiando ativos de maior risco, a perspectiva de um próximo halving e outros desenvolvimentos em pauta no universo das criptomoedas, como o aumento da presença de players institucionais no mercado, especialistas antecipam um segundo semestre favorável para o Bitcoin.
De acordo com a análise de Alexandre Ludolf, Diretor de Investimentos da QR Asset Management, é esperado que a principal criptomoeda do mercado encerre o ano de 2023 com um valor situado entre US$ 35 mil e US$ 40 mil.
Uma nova tendência nas criptomoedas?
Nos últimos anos, as criptomoedas se tornaram uma sensação entre os investidores brasileiros. A pesquisa mais recente do Raio X do Investidor, conduzida pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), revela que a proporção de brasileiros com investimentos em criptomoedas (3%) supera a quantidade de investidores em ações (2%) – uma classe de ativos presente no mercado há um período muito mais longo.
Muitos desses investidores foram atraídos por histórias de lucros exorbitantes que surgiram quando o valor do bitcoin atingiu um recorde de US$ 68 mil em outubro de 2021. Aqueles que mantinham a criptomoeda em suas carteiras há muitos anos, como os pioneiros que investiram quando o BTC valia apenas “o preço de uma pizza”, conseguiram obter um retorno que é raramente visto no mercado financeiro. Esse movimento de valorização atraiu inúmeros investidores para o mercado nos últimos anos.
“O desempenho positivo de um mercado inevitavelmente desperta maior interesse nele”, observa Felipe Medeiros, analista de criptomoedas e sócio da Quantzed Criptos, uma casa de análise e empresa de tecnologia e educação financeira para investidores. “Isso é resultado da psicologia financeira, onde as pessoas tendem a querer se envolver com um ativo quando percebem que outras estão obtendo lucros nesse mesmo ativo.”
Contudo, desde outubro de 2021, o interesse por esse tipo de investimento se manteve estagnado à medida que o período conhecido como o “inverno das criptomoedas” se instalou. Em 2022, o bitcoin foi classificado como o pior investimento do ano, apresentando uma queda acumulada de 66%.
Diversos outros elementos também desempenharam um papel em afastar os investidores desse mercado durante esse período: a quebra da FTX, a queda da Terra (LUNA), a desvalorização das NFTs e a ocorrência de diversos casos de golpes envolvendo criptomoedas. Vamos relembrar alguns deles.
Para Alexandre Ludolf, da QR Asset, após a superação desses eventos, ainda é perceptível o interesse dos investidores na perspectiva das criptomoedas, especialmente em relação à aplicabilidade das infraestruturas e à tokenização. “Há um crescimento das iniciativas educacionais e observamos atores globais de destaque anunciando projetos no setor. A performance do último semestre reforça a ideia de que as criptomoedas vieram para ficar”, ressalta.
No entanto, quanto ao retorno ao auge do interesse dos brasileiros pelo tema, isso provavelmente ocorrerá somente quando as cotações também retomarem aos seus patamares históricos, sugere Fabrício Tota, do Mercado Bitcoin. Segundo ele, o desempenho positivo do bitcoin no semestre ainda não foi suficiente para atrair uma nova onda de investidores individuais para esse mercado.
“As pessoas costumam ficar ancoradas em preços que já viram anteriormente. Por mais que tenhamos uma alta significativa ainda esse ano, somente a possibilidade de novas máximas históricas devem trazer uma nova onda de investidores individuais”, diz Tota.
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